Luluca da Ambulância aparece fazendo sinal do número 55 durante entrega de alimentos; número é o mesmo utilizado pelo prefeito Iedo Elias nas eleições
Durante uma ação de distribuição de cerca de meia tonelada de peixe na Semana Santa em Belmonte, o presidente da Câmara Municipal, vereador Luluca da Ambulância, foi flagrado fazendo um gesto com as mãos que representa o número 55 — número eleitoral do partido do atual prefeito Iedo Elias (PSD).
A entrega de alimentos aconteceu em várias comunidades carentes do município, incluindo áreas rurais e bairros periféricos. Além do peixe, foram doados leite de coco e azeite de dendê, itens tradicionais das celebrações da Sexta-feira Santa. A ação foi registrada em vídeo e amplamente divulgada nas redes sociais.
O que era para ser um ato de solidariedade, rapidamente se transformou em motivo de polêmica. No vídeo, o vereador aparece sorrindo e levantando dois dedos em cada mão em formato que claramente remete ao número 55, utilizado por Iedo Elias em campanhas anteriores. A cena gerou questionamentos sobre o uso da ação social como instrumento de promoção político-partidária, o que pode configurar abuso de poder político e propaganda antecipada irregular.
⚖️ Possível Infração Eleitoral
Segundo o artigo 73 da Lei das Eleições (Lei nº 9.504/1997), é proibido aos agentes públicos utilizar programas sociais em benefício de candidato, partido ou coligação. Ainda que não se trate de ano eleitoral, a legislação também prevê que a promoção pessoal de agentes públicos com recursos próprios ou da Câmara pode ser apurada por conduta vedada, caso haja indícios de uso político.
A situação se agrava quando há simbologias ou gestos com números de candidatos, pois isso pode caracterizar propaganda subliminar ou antecipada, ainda que fora do período oficial de campanha.
📊 Contexto: Pobreza e Influência Política
Belmonte possui cerca de 24 mil habitantes, com mais de 40% da população vivendo abaixo da linha da pobreza, conforme dados do IBGE. Em regiões com alto índice de vulnerabilidade social, ações como distribuição de alimentos podem ter forte influência na percepção pública, especialmente quando associadas a símbolos de políticos em exercício.
O caso reacende o debate sobre a responsabilidade ética de agentes públicos, e a necessidade de se preservar a neutralidade em ações que deveriam ser voltadas exclusivamente ao bem-estar da população — e não à promoção política.
📣 O que dizem os especialistas
Especialistas em direito eleitoral alertam que, mesmo fora de ano eleitoral, a conduta de políticos deve seguir princípios da impessoalidade e moralidade administrativa. A vinculação simbólica de ações sociais a números de partidos pode ser objeto de denúncia ao Ministério Público Eleitoral.